quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

A insustentável leveza do ser




Nos 10 minutos iniciais do filme, vê-se Tomás como um homem que pauta sua vida pela libertinagem sexual. Com as facilidades de um jovem atraente, o médico consegue levar para cama todas as mulheres com quem se esbarra. No entanto, ele mantém uma relação que beira o compromisso - devido a frequência dos encontros - com uma artista plástica chamada Sabina, que também possui a mente livre de apegos sentimentais. Ainda no princípio da história, Tomás conhece uma menina que muda a forma com que ele toca a vida. Tereza conhece o neurocirurgião ao acaso e, interessada no homem, dirige-se à Praga para encontrá-lo. Os dois casam-se e o roteiro se desenrola... Sem tirar o mérito da direção de Philip Kaufman e da atuação de Daniel Day-Lewis, as atrizes Juliette Binoche e, principalmente, Lena Olin roubam a cena com encanto e sensualidade.

O ponto alto de A insustentável leveza do ser - baseado em livro homônimo do tcheco Milan Kundera - é mostrar a forma suave com que o médico leva sua vida e seus relacionamentos amorosos. Essa leveza é notada nos diálogos e no tratamento que tem com suas duas amantes no decorrer do enredo. Dividido entre amor e sexo, as conversas são muito bem compostas, conforme essa transcrita abaixo:

- Você está apenas procurando prazer? Ou toda mulher é uma terra nova cujos segredos você quer desvendar? Quer saber o que ela dirá quando fizer amor? Ou como ela sorriria? Ou o que sussurraria? Gemeria, gritaria?
- Talvez os menores e mais inimagináveis detalhes. Pequenas coisas fazem uma mulher totalmente deferente de qualquer outra.
- Qual é o meu detalhe, doutor?
- O seu chapéu, Sabina.

No desenrolar do romance, as paisagens da capital Tcheca embelezam o cenário, pois é durante a Primavera de Praga de 1968 que se passa o contexto histórico do filme. Nessa época, a União Soviética invade a cidade com seus tanques de guerra e força o exílio de diversas pessoas. Abaixo, uma analogia construída para comparar Tebas a Praga.

(...) Não inocentes, mas desavisados, talvez. Não importa se sabiam ou não. Estive pensando sobre Édipo. Quando Édipo percebeu que havia matado seu pai, sem saber. Foi sem saber, que matou seu pai... E estava dormindo com sua própria mãe... Por causa de seus crimes, pragas estavam devastando a sua cidade e ele não pôde suportar a visão do que havia feito. Ele arrancou os próprios olhos e deixou a cidade. Ele não se sentiu inocente, mas sentiu que deveria se punir. Já os nossos líderes, ao contrário de Édipo, sentiram que eram inocentes. E quando as atrocidades do período stalinista foram reveladas, eles disseram: "Nós não sabíamos! Nós não sabíamos o que acontecia. Nossa consciência está limpa". Mas a diferença importante é que eles continuam no poder.

LINK:
http://vagalumerosa.wordpress.com/2008/10/15/a-insustentavel-leveza-do-ser-the-unbearable-lightness-of-being-1988/