terça-feira, 23 de novembro de 2010

Desafio no Bronx

Era década de 1960, o som em estilo Doo Wop perdia espaço para a batida dos Beatles. Entretanto, o Jazz e a Black Music ainda eram constantes nas ruas de Nova York. (Não preciso dizer que a trilha sonora do filme é fenomenal, né?) Os distritos dessa grande metrópole eram divididos em seus grupos sociais, culturais e raciais. No Bronx não era diferente: brancos e negros habitavam em vizinhanças próximas, como se estivessem a quilômetros de distância. O cenário do filme é um bairro de italianos, o Fordham, onde há um grupo de mafiosos que controlam as adjacências. Além disso, o pré-conceito racial é latente em seus moradores e isso é claramente notado quando um negro cruza as redondezas.
A narrativa é feita por Calogero (Francis Capra, aos 9, e Lillo Brancato, aos 17), um garoto que cresceu no bairro e testemunhou um assassinato cometido pelo chefe da máfia local, Sonny (Chazz Palminteri). No entanto, no momento de identificar o criminoso, o menino (aos 9 anos) mentiu para os policiais e não delatou o assassino. Com isso, Sonny se aproximou de Calogero - agora apelidado de "C" - e passou a lhe tratar como um filho, dando conselhos de pai e contribuições financeiras. Ao perceber essa aproximação entre os dois, Lorenzo (Robert De Niro), o pai do menino, tenta mostrá-lo que a realidade vivida pelos mafiosos não é correta.
Enquanto Sonny é um criminoso que considera os trabalhadores uns otários, Lorenzo é um digno motorista de ônibus que acorda cedo todos os dias para honrar seu emprego. Junto à questão racial, a discussão sobre escolhas - sejam certas na hora errada ou vice versa - ocupam o centro do filme. Na primeira parte, o filme é visto pelos olhos de uma criança de 9 anos, e depois, por um rapaz de 17 anos, que se apaixona por uma menina negra, Jane (Taral Hicks).

Desafio no Bronx, o primeiro filme dirigido por De Niro, é uma adaptação de um roteiro de Chazz Palminteri, que também faz uma atuação brilhante no longa. Segue, abaixo, um diálogo interessante entre Sonny e "C". Também selecionei dois vídeos, um mostrando o embate de valores entre Lorenzo e Sonny, e outro, o momento em que Calogero apaixona-se por Jane (com o som de I Only Have Eyes For You, no sax de Gerry Niewood).
- Qual é o problema?
- Louie Dumps me deve 20 pratas, já faz duas semanas. Toda vez que me vê, ele se esconde. Já estou puto. Devo dar uma surra nele?
- O que há contigo? Já te disse que nem sempre bater em alguém resolve. Em primeiro lugar, ele é seu amigo?
- Não, eu nem gosto dele.
- Você nem gosta dele? Aí está a resposta, vai custar-lhe 20 pratas pra livrar-se dele. Ele não vai chateá-lo mais, não pedirá mais dinheiro. Sairá da sua vida por 20 dólares. É barato, esqueça isso.
- Você está certo. Você está sempre certo!
- Se eu estivesse sempre certo, não teria passado 10 anos na prisão...
- O que fazia todos os dias?
- Só tem três coisas pra fazer: levantar peso, jogar cartas ou arrumar confusão.
- O que você fazia?
- Eu lia. Já ouviu falar em Maquiavel?
- Quem?
- Maquiavel, um escritor famoso de 500 anos atrás. Ele falava sobre disponibilidade.
- Disponibilidade?
- Exato. Ouça-me, eu posso morar onde eu quiser. Sabe por que moro nesse bairro? Disponibilidade. Quero estar perto de tudo. Estando aqui, posso ver os problemas imediatamente. Problemas são como câncer: se você não perceber logo, eles crescem e matam você. Precisam ser eliminados. Capiche? Vamos andando... Você está preocupado com Louie Dumps. Ninguém dá a mínima, ninguém dá a mínima. Preocupe-se com você, com sua família, com quem realmente importa.
- (...)
- Afinal, tudo é disponibilidade. As pessoas que me veem todos os dias, se estão ao meu lado, sentem-se seguras, porque sabem que estou por perto. Por estar por perto gostam de mim. Aqueles que preferem me atacar pensam duas vezes, porque sabem que estou por perto. Tem mais motivos para me temer.
- É melhor ser amado ou ser temido?
- Boa pergunta. As duas coisas são boas, mas é difícil. Se quer saber a minha escolha, eu prefiro ser temido. O medo dura mais que o amor. Amizades compradas não valem nada. Você nota isso: se eu conto uma piada todos riem. Eu sei que sou engraçado, mas não tanto. O medo faz com que sejam leais a mim. O segredo é não ser odiado. Por isso, eu os trato bem, mas não muito, ou não precisarão mais de mim. Dou só o necessário, assim, precisam de mim e não me odeiam. Lembre-se dessas palavras.

VÍDEOS:

"Seu pai que é durão"




"C" vendo Jane no ônibus




LINK:
http://vagalumerosa.wordpress.com/2010/09/30/desafio-no-bronx-a-bronx-tale-1993/

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Vincent


A Vinha Encarnada, de Vincent Van Gogh, foi o único quadro do artista a ser vendido enquanto ele estava vivo. A tela foi adquirida em 1890, ano de sua morte, pela pintora e curadora Anna Boch, por 400 Francos.



Cem anos depois, a tela Retrato do Dr. Gachet, também de Van Gogh, foi leiloada por US$ 82,5 milhões, sendo a obra de arte mais cara já vendida até aquela época.

Dá pra entender?

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Crimes e Pecados

Woody Allen é simplesmente genial. A história do filme se divide em dois núcleos paralelos. Em um deles, Clifford (Woody Allen) é um cineasta mal sucedido, que pretende fazer um documentário sobre as idéias de um filósofo existencialista, mas não tem como financiar o filme. Para conseguir dinheiro, ele aceita um emprego oferecido pelo seu cunhado, um produtor de grande fama que irá gravar uma biografia em Nova York. Mesmo detestando o famoso Laster, ele aceita o trabalho para captar recursos e, além disso, agradar sua esposa. Nas gravações, Cliff conhece uma moça, Halley (Mia Farrow), com quem passa diversas tardes indo ao cinema e conversando sobre filmes. A grande afinidade intelectual entre os dois faz com que Clifford se apaixone e queira terminar de vez o seu péssimo casamento.




No outro núcleo, Judah Rosenthal (Martin Landau) é um oftalmologista de grande sucesso, que mantém um caso extra-conjugal há 2 anos. As coisas corriam bem até que sua amante, Dolores (Angelica Huston), começa a ter crises histéricas e ameaça contar tudo para sua esposa, sobre seu caso amoroso e seus deslises profissionais. Preocupado com as consequências, que poderiam levar ao fim do seu casamento e arruinar com a sua vida, Judah chama seu irmão para conversar e ajudá-lo a resolver essa situação delicada. Chamo atenção para os conflitos éticos, morais e religiosos nos quais o personagem fica imerso. Abaixo, transcrevi uma conversa em que Judah revisita o passado e dialoga com familiares já falecidos.
- E se um homem comete um crime? Se ele mata...
- Acabará sendo punido.
- Se for pego...
- Se não for pego também, "aquele que plantou a semente do mal sempre colherá sofrimento".
- Está confiando demais na Bíblia.
- Não, não, não. Seja na Bíblia ou em Shakespeare, o assassino pagará.
- Quem falou em assassinato?
- Você falou.
- Falei?
- Digo que, se ele pode fazer e escapar impune, e escolhe não se incomodar com a ética, é um homem livre. Lembrem-se, a história é escrita pelos vencedores. Se os Nazistas tivessem vencido, as futuras gerações veriam a Segunda Guerra de forma bem diferente.
- Sua tia é uma mulher brilhante, Judah, mas teve uma vida muito infeliz.
- E se sua fé estiver errada? E "se" for assim?
- Ainda assim terei uma vida melhor do que os incrédulos.
- Espere um pouco. Está dizendo que prefere Deus à verdade?
- Se necessário, sempre escolherei Deus à verdade.

No final do filme, há um diálogo sensacional, que vale a pena ser visto mais de uma vez (se você já tiver visto o filme, é claro). É uma obra prima. Costumo dizer para as pessoas que gostaram de Match Point, que achariam apenas um bom filme se tivessem visto Crimes e Pecados antes.

LINK:
http://vagalumerosa.wordpress.com/2008/11/30/crimes-e-pecados-crimes-and-misdemeanors-1989/

domingo, 14 de novembro de 2010

Pulp Fiction

Tarantino é bom pra caralho! Pulp Fiction é um filme policial em estilo HQ, no qual são feitos recortes de histórias que não seguem uma cronologia bem definida, mas envolvem diversos personagens ligados a um mesmo mafioso, o Marsellus (Ving Rhames).
Vincent Vega (John Travolta) e Jules Winnfield (Samuel L. Jackson) são matadores que vão a um apartamento para recuperar a mala de Marsellus. Os dois tem conversas excêntricas sobre assuntos variados, por exemplo, falam sobre drogas em Amsterdã, os nomes dos hamburgers em Paris e conseqüências de uma massagem nos pés.
Em outro recorte, Vincent foi escalado pelo mafioso a fazer companhia a sua esposa, Mia (Uma Thurman), enquanto ele ficará ausente. O que deveria ser apenas uma saidinha ou um programa divertido toma proporções maiores... Ênfase para a cena em que Uma Thurmam dança ao som de Urge Overkill – Girl, you'll be a woman soon – e John Travolta conversa consigo próprio no banheiro.
Além das situações descritas acima, Butch Coolidge (Bruce Willis), um boxeador em final de carreira, foi comprado por Marsellus para beijar a lona no 5° assalto. Sem muito a perder na vida, ele acaba detonando seu adversário e fugindo com a grana. A fuga seria simples se sua namorada, uma dócil menina, não tivesse esquecido um estimado relógio de infência...
O grande barato do filme são os personagens marcantes, as cenas inusitadas e os diálogos fora do comum. Transcrevo abaixo uma conversa hilária entre Vincent e Jules, além de selecionar duas cenas do filme.

- Lembra-se de Antwan Rockamora, metade negro, metade samoano, era chamado de Tony Rocky Horror?
- Sim, talvez. Gordo, né?
- Pode ser. Quero dizer, ele tinha um probleminha de peso, mas o que podia fazer? Ele é samoano.
- Acho que conheço. O que tem ele?
- Marsellus o estraçalhou. Dizem as más línguas que foi por causa de sua esposa, a de Marsellus (Mia).
- O que ele fez, trepou com ela?
- Não, não. Nada tão grave.
- Então, o que fez?
- Fez uma massagem nos pés.
- Uma massagem nos pés? Só isso?
- Uhum.
- O que Marsellus fez?
- Mandou uns caras a casa dele. Eles o levaram para o terraço e o jogaram janela abaixo. O negão caiu do 4° andar. Havia uma espécie de estufa em baixo, de vidro. Ele atravessou tudo. Desde então, ficou com problema de fala.
- É uma lástima. Mas quem brinca com fogo, se queima.
- O que quer dizer?
- Não devia fazer massagem nos pés da nova esposa de Marsellus.
- Não acha que ele exagerou?
- Acho que Antwan não esperava essa reação, mas tinha que esperar alguma coisa.
- Uma massagem nos pés não é nada. Eu faço na minha mãe.
- Colocou as mãos na nova esposa de Marsellus... É tão grave quanto dar uma chupada nela? Não. Mas por aí vai a coisa...
- Espere! Dar uma chupada não tem nada a ver com fazer massagem nos pés da mulher.
- Não, mas é por aí.
- Não tem nada a ver! Olhe, suas massagens devem ser diferentes das minhas, mas tocar nos pés e meter a língua naquele sagrado lugar não são a mesma coisa. Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Massagens nos pés não significam porra nenhuma.
- Já fez massagem nos pés?
- Porra... Não me fale sobre massagem nos pés, eu sou o mestre.
- Já fez muitas?
- Claro! Tenho a técnica perfeita, nem faço cócegas.
- Faria massagem nos pés de um homem?
- Vai se fuder...
- Sempre faz isso?
- Vai se fuder...
- Estou cansado, adoraria uma massagem.
- Para por aí, estou ficando puto contigo.
- (...)
- Eu não faria massagem nos pés de um homem, mas nem por isso justifica atirar Antwan de um prédio, em cima de uma estufa de vidro. Isso não está certo. Se fosse comigo, era melhor me deixar paralítico ou eu mataria o maldito.
- Não disse que era certo. Você disse que massagem nos pés não é nada e eu digo que é. Já fiz milhões em mulheres e todas significaram algo. Fingimos que não, mas na verdade sim. Isso que é legal. Existe um fator sensual, mas ninguém diz. Você sabe, ela sabe, Marsellus sabia. Antwan deveria saber que isso não se faz. É a mulher do cara, ele não ia levar na boa. Entende o que digo?
- É uma perspectiva interessante.

CENAS:

Silêncio desconfortável




Butch escolhendo uma arma




LINK:
http://vagalumerosa.wordpress.com/2008/06/01/pulp-fiction-tempo-de-violencia-pulp-fiction-1994/

sábado, 13 de novembro de 2010

Thanks, Wikipedia

Wikipédia é uma enciclopédia livre, na qual colaboradores do mundo inteiro podem acrescentar informações de acordo com o uso ou editá-las de acordo com as necessidades. A lógica é simples: se você precisa de uma informação, busque-a; se você se importa que determinada informação esteja correta, inclua-a ou edite-a. Simples, não?
Fazendo uma comparação básica e superficial, a Barsa vende mais de 125 mil verbetes, enquanto a Wiki divulga abertamente 3,4 milhões (em inglês). Pra mim, isso já é goleada! No entanto, o mais interessante é que Jimmy Wales e Larry Sanger, os fundadores do site, estão incentivando um novo modelo de troca de informações: a colaboração na internet. Um dia, quem sabe, teremos uma mega rede muito bem interligada, onde todas as suas buscas serão tão efetivas quanto encontrar um pão na padaria...
Deixando de lado essa baboseira toda, vamos ao que interessa! É muito legal ficar usando os recursos sem pagar nada, também acho. Afinal, se o uso do Wikipédia fosse cobrado, eu acho que iria procurar uma outra fonte. Porém, há a possibilidade de fazer uma doação em dinheiro (US$ 20 ou mais). Aí as coisas mudam, ninguém é obrigado a fazer, mas quem quiser, pode. Enfim, quero apenas divulgar o link (na imagem abaixo) e seguir ao lado dessa caminhada. Quanto mais pessoas ajudarem, melhor ficará a rede para todos. Isso é colaboração, essa é a lógica.




Vamos juntos!

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Mulheres à beira de um ataque de nervos

No princípio, parece que o filme irá falar sobre um romance mal resolvido entre Pepa (Carman Maura) e Iván (Fernando Guillén). Porém, com o passar do tempo, Pedro Almodóvar, o diretor, começa a inserir personagens e fazer com que todos eles interajam de maneira bastante curiosa. Quando você se dá conta, está imerso em uma estória louca e muito divertida que não fala somente sobre um drama específico, mas de vários.
Entre os personagens que surgem, ressalto particularmente Candela (María Barranco), uma amiga neurótica de Pepa que passa parte do filme tentando ser ouvida e não consegue. Além disso, é claro, um destaque especial para diálogos lunáticos entre Pepa e Lucía (Julieta Serrano), ex-mulher do garanhão Iván. Abaixo, um contato telefônico entre as duas:
- Quem é?
- Pepa Marcos. Ivan está?
- Não.
- Desculpe incomodar.
- Não pretendo perdoá-la.
- Tenho que falar urgentemente com ele.
- Como se atreve a ligar pra cá?
- Por favor, senhora, não grite, pois eu acabo de desmaiar.
- Por mim, pode até morrer!
- Não se preocupe. Entre mim e Ivan não há nada.
- Vai à merda!
- Vai à merda você também! Mas diga a ele que me ligue.

A título de curiosidade, este é o primeiro filme a levar visibilidade internacional para Almodóvar, pois foi indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro, em 1988. Também é engraçado ver o Banderas novinho atuando no filme...

TRAILER:




LINK:
http://vagalumerosa.wordpress.com/2008/02/24/mulheres-a-beira-de-um-ataque-de-nervos-mujeres-al-borde-de-un-ataque-de-nervios-1988

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Perfume de Mulher

Mulheres! O que se pode dizer? Quem as fez? Deus deve ter sido um puta gênio. O cabelo... Dizem que o cabelo é tudo. Você já mergulhou seu nariz em uma montanha de cachos e apenas quis dormir pra sempre? Ou os lábios... Quando eles tocam os seus são como a primeira taça de vinho depois de ter cruzado o deserto. Tetas! As grandes, as pequenas, mamilos a te fitar como holofotes secretos. Pernas... Eu não me importo se elas são colunas gregas ou bengalas de segunda mão, o que está entre elas é um passaporte para o céu. Eu preciso de uma bebida. Sr. (Charlie) Simms, neste mundo só há três sílabas que valem a pena ouvir: boceta.

Essa é uma das marcantes falas do ex-Tenete-Coronel Frank Slade (Al Pacino), um cego despudorado que é apaixonado pelo cheiro das mulheres. Viciado em whiskey – em especial, o Jack Daniel`s –, esse homem tem a grosseria de um militar aposentado e a elegância de um dançarino de tango. Frank tem planos de realizar alguns desejos no final de semana de Ação de Graças, mas para isso precisa de um companheiro que lhe guie em Nova York. Sem amigos e nenhuma afinidade com os familiares, ele contrata um bolsista para acompanhar-lhe. Charlie (Chris O`Donnell), um garoto íntegro e dedicado aos estudos, ajuda seus pais a pagar a escola, mas corre o risco de perder sua bolsa e a sonhada indicação para Harvard por ter testemunhado uma brincadeira feita pelos “riquinhos” de seu colégio. Perfume de Mulher é um clássico dos anos 90 e carrega no peito uma atuação deslumbrante do Al Pacino, merecedora do Oscar de melhor ator em 1993.

Abaixo, a cena em que o Coronel Slade tira uma linda jovem, Donna (Gabrielle Anwar), para dançar tango ao som de Gardel.





LINK:
http://vagalumerosa.wordpress.com/2008/06/22/perfume-de-mulher-scent-of-woman-1992/

domingo, 7 de novembro de 2010

Pós-night

São seis da manhã, hora em que se conclui: quem não se arrumou, não se arruma mais. The game is over. Saio da boate aonde me encontrava e me direciono para casa, que fica a cerca de três quadras dali. Vou andando calmamente, sem pressa, talvez, cambaleando um pouco. Cruzo a primeira esquina, nenhuma alma viva nas ruas. Vejo à minha frente, na outra esquina, duas meninas conversando. Andando, cumprimento-as:

- Boa noite, boa noite.
- Boa noite! – responde a primeira.
- Que menino educado. – ouço a segunda comentar.

Continuo meu percurso e penso na falta de educação das pessoas em geral. Naquele momento me senti um gentleman, me incluí dentro do seleto grupo de cavalheiros do mundo moderno. O álcool faz a gente pensar cada coisa... Na esquina seguinte, avisto uma ambulância parada. Desacelero o passo para ver o que havia ocorrido. Percebo que houve um acidente de carro.

- Boa noite, amigo. Foi atropelamento? – pergunto para um espectador curioso.
- Foi sim.
- Você viu? Sabe se o carro estava veloz?
- Só ouvi o barulho.
- Parece que o cara não está mal...
- Deve ter quebrado umas costelas.
- (Ai, tá fodido) Que merda... Boa noite.
- Boa noite. – diz ele, concordando com o meu pensamento.

Ser atropelado já é ruim, de madrugada deve ser um cu. Sigo até chegar em casa e penso “vou escrever isso”.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

O carteiro e o poeta

O filme Il Postino (1994) é um drama baseado no livro Ardiente Paciencia de Antonio Skármeta. A história retrata o encontro afetivo entre um carteiro, Mario, e Pablo Neruda, que vai para o exílio em uma pequena ilha de pescadores na Itália. É um ótimo filme para quem curte poesia. Qualquer coisa que eu diga além disso, estarei pecando com "palavras banais", conforme o diálogo transcrito abaixo.

- Metáforas, o que são?
- Metáforas? Metáforas são... Como posso explicar? É quando se fala de uma coisa, comparando-a a outra.
- É uma coisa que se usa na poesia?
- Sim, também. Sim.
- Por exemplo?
- Por exemplo, quando se diz “o céu chora”, o que se quer dizer?
- Que está chovendo.
- Sim, bravo! Isso é uma metáfora.
- Então, é simples! Por que tem um nome tão complicado?
- O homem não tem compromissos com a simplicidade ou complexidade das coisas.
- Com licença, Dom Pablo. Então, vou andando... Ah! Ontem eu estava lendo uma coisa. Estava escrito “o cheiro de uma barbearia faz-me soluçar em voz alta”. Também é uma metáfora?
- Não, não exatamente.
- (...) Por que é que “o cheiro de uma barbearia faz-me soluçar em voz alta”?
- Veja, Mario... Não posso dizer com palavras diferentes das que usei. Quando se explica a poesia, ela torna-se banal. Melhor que qualquer explicação é a experiência direta das emoções que a poesia pode revelar a uma alma pré-disposta a compreendê-la.


ENTEVISTA COM ANTONIO SKÁRMETA:



LINK:
http://vagalumerosa.wordpress.com/2008/04/21/o-carteiro-e-o-poeta-il-postino-1994/

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Sou nulo

Vou votar nulo. Não dá. Que eleição é essa? Com esses candidatos, não tem como! Me desculpem os de direita e os de esquerda, os de norte e os de sul, mas meu voto não vai pra nenhum deles. Não quero liberalismo, comunismo, socialismo, nem utopia. Ateus, protestantes e católicos, estão todos fora da minha lista. Não quero puritanos, nem fascistas. Nazistas, nem pensar! Nada de Levellers, nem Diggers. Bolcheviques, fora de cogitação. Se não voto em Girondinos, imagina em Jacobinos? Monarquia, república, anarquia, tanto faz. Ditadura, eu sei que é péssimo, já dizem os mais velhos. Democracia é menos pior, pelo menos, a gente escolhe. Votar em quem? Não voto pelos ricos, nem pelos pobres. Quero igualdade, mas odeio populismo. Não quero eleger ninguém, e não quero dar golpe. A revolução não é mais viva, agora tem letra minúscula. Não gosto de demagogia, mas a verdade é difícil de aceitar: sou nulo.


terça-feira, 2 de novembro de 2010

Arizona Dream

Tinha ouvido falar em Emir Kusturica por ser um cineasta louco, mas não tinha idéia da grandeza dessa loucura. Resolvi assistir o filme "Um sonho americano" e achei sensacional. Muito bom mesmo! Transcrevi um diálogo entre dois personagens do filme Axel e Greece, vividos por Johnny Depp e Lili Taylor em atuações sublimes.

- Estava pensando no que você disse.
- O que foi que eu disse?
- Que era para eu ficar com você.
- (...)
- Sabe, a primeira vez que vi Elaine, senti alguma coisa, algo muito forte. Não sabia o que era, não sabia do que chamar. Agora tudo meio que ficou de cabeça para baixo. Ela é como... Ela é como uma nuvem... e eu consigo ver através dela. E do outro lado vejo você. E sinto algo muito forte. Acho que sei como chamar. Faz algum sentido?
- (...)
- O que você acha?
- Sobre o quê?
- Sobre nós, tipo, ficarmos juntos.
- (...)
- O que você acha?
- Acho que dois erros não fazem um acerto.
- O que quer dizer?
- Digo “nós”, dois erros.
- E se não for? Se formos dois acertos e todo mundo estiver errado?
- De qualquer maneira vamos estar fodidos.
- Mas vamos estar fodidos juntos.
- Oh, quem me dera poder te levar comigo.
- Então, vamos. Vamos agora mesmo! Sem trens, sem aviões, sem merda de portas. Vamos sair pela janela!


TRAILER:



LINK:
http://vagalumerosa.wordpress.com/2009/08/26/um-sonho-americano-arizona-dream-1993/

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Que blog é esse?

Resolvi ter um blog para publicar coisas quaisquer. Nada disso tem muita utilidade, mas são interessantes para mim.

Por que Correio da Madrugada? Sei lá, achei um nome legal e costumo escrever de madrugada.

Se achar útil, fique à vontade.